HISTÓRIA

PAÇOS DE VILHARIGUES
Origem do Topónimo


Factos constantes da Inquirição de 1258 mandada fazer pelo Rei D. Afonso III na parte referente às povoações que constituem hoje a freguesia de Paços e integravam então a paróquia de Vouzela


Ameixas (1) – Fernando do Pelágio de Vouzela jurado e interrogado disse que Maria Cidiz vendeu a Pedro do João, de Ferreiros, um casal em Ameixas foreiro do Rei da Cavalaria de Vouzela; e que  Dona Maria, de Ferreiros, tem este casal e não faz foro ao Rei. Interrogado sobre o tempo em que o Pedro do João comprara este casal disse que no do Rei Sancho irmão deste Rei.
Martinho do João, de Ameixas, disse o mesmo, mas não se recorda bem em que tempo foi. Pedro do Martinho, de Ameixas, jurado disse que este casal foi da cavalaria do Rei. Pelágio do Soeiro, de Paços, jurado disse o mesmo que Fernando do Pelágio. Mendo do Pelágio, de Paços, Pedro do Pedro, de Ameixas, Clérigo, e Domingos Fontão disseram o mesmo. O mesmo Fernando do Pelágio jurado disse que Dom Didaco, de S. Vicente, testou ao mosteiro de S. Cristóvão um casal forreiro do Rei da Cavalaria de Vouzela em Ameixas e que o mosteiro tem este casal e não faz foro ao Rei. Interrogado sobre o tempo disse que no do Rei Sancho irmão deste Rei.
Martinho do João, de Ameixas, jurado e interrogado disse o mesmo. Pedro Martinho, de Ameixas, jurado disse que este casal foi da cavalaria do Rei. Pelágio do Soeiro, de Paços, Mendo do Pelágio, de Paços, e Pedro do Pedro, de Ameixas, clérigo, disseram o mesmo.
O mesmo Fernando do Pelágio jurado disse que Donia testou à igreja de Vouzela uma leira foreira do Rei de foramontãos em Ameixas. Interrogado sobre o tempo disse que no do Senhor Rei Sancho irmão deste Rei.
Martinho do João, de Ameixas, e Pedro do Pedro de Ameixas disseram o mesmo e este acrescentou que esta leira se situa no lugar chamado Avogazes.
O mesmo Fernando do Pelágio jurado disse que Dona Maria, de Ameixas, testou à igreja outra leira da herdade foreira do foro de foramontãos no termo de Ameixas no tempo do Rei Sancho irmão deste Rei.
O mesmo Fernando do Pelágio disse que Eixemena do João testou à igreja outra leira da herdade foreira do Rei do referido foro no termo de Ameixas no tempo do Rei Afonso pai deste Rei.
O mesmo Fernando do Pelágio jurado disse que Maria do João, sua avó, testou à igreja uma peça da herdade foreira do Rei do foro de foramontãos no termo de Ameixas no tempo do Rei Sancho avô deste Rei.
O mesmo Fernando do Pelágio jurado disse que toda a Vila de Ameixas foi e deve ser foreira do Rei pelo foro de foramontãos e de cavalaria. Martinho do João, de Ameixas, e Pedro do Pedro, de Ameixas, disseram o mesmo.
O mesmo Martinho do João, de Ameixas, jurado e interrogado disse que em Ameixas tem o Senhor Rei reguengos, sendo meio casal e 9 leiras, 5 junto à ermida de S. Pedro e 4 na Rigueira. Pedro do Martinho, de Ameixas, disse o mesmo e Pedro do Pedro, clérigo, disse que o Rei tem reguengos neste lugar.
O mesmo Martinho do João jurado e interrogado disse que Maria Dias filha de Donia testou à igreja de Vouzela uma leira da herdade foreira do Rei em Ameixas no lugar chamado S. Julião no tempo deste Rei.
Pedro do Martinho, de Ameixas, Martinho do Pedro, de Ameixas, Pedro do Pedro, Clérigo, de Ameixas, Estêvão do Gonçalo, de Vouzela, disseram o mesmo e este acrescentou que ele mesmo cultiva outros testamentos feitos à igreja por foreiros do Rei, mas não sabe quem foram os testadores nem em que tempo. O mesmo Martinho do João jurado disse que a igreja de Vouzela tem no termo de Ameixas por testamento muitas herdades foreiras do Rei, mas não sabe quem as testou nem em que tempo.
Pedro Martinho, de Ameixas, e Martinho do Pedro disseram o mesmo.

Paços (2) – Pelágio do Soeiro, de Paços, jurado e interrogado disse que na Vila de Paços tem a igreja de Vouzela 11 casais, o Hospital e 3 casais, Dona Toda de Boialvo 1 casal e que toda a restante herdade de Paços é foreira do Rei de cavalaria e de foramontãos.
Dom Pelágio, de Santa Marinha, João, de Paços, e Mendo do Pelágio, de Paços, disseram o mesmo.
O mesmo Pelágio do Soeiro jurado disse que João, de Vouzela, seu sogro testou à igreja de Vouzela uma peça de herdade em Paços foreira do Rei, e a sua sogra, Maria do Pedro, também testou outra peça de vinha foreira do Rei à mesma igreja.
Interrogado sobre o tempo disse que no do Rei Sancho irmão deste Rei. Mendo do Pelágio e João Ramires disseram o mesmo e este acrescentou que esta herdade que João testou é em Campo da Forca.
Mendo do Pelágio, de Paços, jurado e interrogado disse que Pelágio do Soeiro seu pai testou à igreja de Vouzela uma peça da herdade foreira do Rei em Paços no lugar chamado Madões; também Auroana do Fernando, sua mãe, testou no mesmo lugar outra peça de herdade foreira do Rei.
Interrogado sobre o tempo em que o seu pai testara esta herdade disse que no do Rei Sancho irmão deste Rei e que não se recorda do testamento da mãe.
O mesmo Mendo do Pelágio jurado e interrogado disse que Nuno Soares, de Paços, testou à mesma igreja outra peça de vinha foreira do Rei em Paços. Interrogado sobre o tempo disse que no do Senhor Rei pai deste Rei. João Ramires disse o mesmo e acrescentou que este testamento é na Senra. O mesmo Mendo do Pelágio jurado disse que a igreja dita tem em Paços por testamentos outras herdades foreiras do Rei no tempo do Senhor Rei Afonso pai deste Rei.

Soutelo e Campo de Forca (3) – Mendo do Pelágio, de Paços, jurado e interrogado disse que ouvira dizer a Soeiro Mouro que foi juiz de Lafões e a Pelágio do Soeiro, seu pai, que Soutelo e Campo da Forca eram foreiros do Rei por foro de foramontãos, e os homens que cultivavam estas herdades deram-nas em censúria a Santa Cruz para que esta os defendesse do foro do Rei; e deste modo não prestam nenhum foro ao Rei.
Fernando do Pelágio, de Vouzela, jurado disse que Soutelo, paróquia de S. Vicente, e Campo da Forca foram foreiros do Rei pelo foro de foramontãos, Martinho do Pedro, de Soutelo e João Ramires disseram o mesmo que Fernando do Pelágio.

Vilharigues (4) – Pedro Soares jurado e interrogado disse que da Vila de Vilharigues pagam ao Rei voz e coima, e, de três casais que a igreja de Vouzela tem em Vilharigues, vão à hoste e à anúduva do Rei. Pedro Martinho, João do Martinho, Dom Durão e Pedro do Mendo disseram o mesmo.



NOTA - Estas inquirições, como outras, foram mandadas fazer pelo rei para memória dos bens que pertenciam à nobreza e à Igreja, que estavam isentos do pagamento de prestações ao Rei, distinguindo-os dos outros bens, porque havia frequentes abusos arrogando-se a Igreja e os nobres direitos sobres bens que não lhes pertenciam, o que fazia reduzir os rendimentos com que o rei pagava os encargos públicos.
A memória dos bens foi organizada por paróquias, circunscrições religiosas que já então cobriam todo o território nacional, ouvindo pessoas locais consideradas dignas de crédito.
À data destas Inquisições (1.258) a paróquia de Paços de Vilharigues não havia sido ainda autonomizada da de Vouzela.

A tradução é de António Bica.



NOTAS de acordo com as chamadas numeradas no texto:

(1)   Ameixas é grafado Ameyxeas no texto das Inquirições, em latim medieval.

(2)   Paços é grafado nas Inquirições Paazos, o que significará que no local haveria casas apalaçadas. Por isso a melhor grafia para Paços será, como actualmente se usa, Paços e não Passos como também foi usado significando passagem ou portela.


(3) Campo da Forca é provável que fosse junto da Ponte Mezio. Mezio significa homicídio. Terá ocorrido junto à ponte algum homicídio célebre e os seus autores enforcados no campo próximo. Isso compatibiliza-se com o Soutelo ser da paróquia de S. Vicente de Lafões.

(4) No texto das Inquirições Vilharigues vem grafado Oveliarigos e Ovelarigues, o que poderá indicar que a criação de ovelhas (ovis em latim) tivesse tido  peso  económico significativo na constituição da povoação.
  


Afirma-se que povoação de Vilharigues foi honra paçã, e como tal provida de paço com torre senhorial.
Pela análise das características arquitectónicas, acredita-se que esta torre medieval, como outras no Concelho, tenha sido erguida no final do século XIII ou no início do século XIV. Isso é indicado pela presença de matacães, elemento típico das construções militares, que introduzido em Portugal sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), só passou a integrar as residências senhoriais fortificadas sob o de D. Dinis (1279-1325). Os indícios da presença de ameias e seteiras, elementos típicos dos castelos, e que só podiam ser utilizados nas habitações mediante autorização régia, denotam a importância e o prestígio de seus senhores.
Era senhor da torre de Vilharigues, D. Vasco Lourenço da Fonseca, casado com Dona Margarida Anes, senhores de vastos bens na terra de Lafões. Este vendeu a torre a Gonçalo do Monte, à época do reinado de D. Pedro I (1357-1367), o qual a doou a 5 de Agosto de 1357 a Diogo Álvares, filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, doação esta confirmado pelo soberano, a 20 de Maio de 1361.
Embora subsistam dúvidas sobre quem a mandou construir, uma tradição local afirma que o nome de D. Duarte de Almeida, o Decepado na batalha de Toro (2 de Março de 1476), está ligado à sua história.
A Torre de Vilharigues localiza-se na povoação de mesmo nome, Freguesia de Paços de Vilharigues, Concelho de Vouzela, Distrito de Viseu, em Portugal.
Erguida em posição dominante sobre um outeiro, na vertente noroeste da serra do Caramulo, é uma das torres medievais remanescentes no concelho. Do seu topo avista-se Vouzela e grande parte do vale de Lafões.
Bastante arruinada, os seus remanescentes – duas paredes com dois matacães – encontram-se classificados como Imóvel de Interesse Público, por Decreto de 27 de Março de 1944.
(entrará em obras de requalificação e beneficiação em breve) - veja o anexo CONCURSO PÚBLICO)























Características
A uma altitude de cerca de quatrocentos e trinta metros acima do nível do mar, apresenta planta quadrangular, em aparelho de granito, dividida internamente em três pavimentos: o inferior serviria como uma espécie de depósito ou armazém, o intermediário como uma sala ou salão social, e o superior, como os aposentos íntimos da família do senhor. No seu interior são ainda visíveis as reentrâncias que serviram de suporte às traves de madeira dos pisos.
Apesar de se tratar de uma torre senhorial, apresenta algumas características comuns às torres militares, como a existência de dois matacães apoiados em mísulas nas suas paredes exteriores.
Junto à antiga torre ergue-se a Capela de Santo Amaro.




Anexo - CONCURSO PÚBLICO